quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Visão de Abraão, poema de Edmond Fleg



A Visão de Abraão

No país de Ur-Casdim, na planície dos rios,
Abraão deitou-se perto de seu rebanho.
Então surgiu no céu uma nova estrela.
E o pastor disse à estrela:
                                              - Cordeiro
De Luz, Istar – tu a quem meu pai
E minha mãe, beijando a terra,
Cantam preces,
És tu Deus?
                      Mas a alma de Istar
Voou pela noite.

Então surgiu no céu um crescente novo
E o pastor disse ao crescente: - Cabrito
Malhado de claridades,
Sina, de quem as virgens vão cantar,
Sobre as sete torres da cidade,
A força e a fecundidade,
És tu Deus?
                        Mas o espírito de Sina
Fugiu por sobre a colina.

Então surgiu no céu um novo sol.
E o pastor disse ao sol:
- Touro sem mácula no ruivo tosão,
Schemesch, cujo nome os velhos cantam
Quando com teu corno de raios
Caças os demônios do horizonte,
És tu Deus?
                     Mas nas manjedouras d’ouro,
Schemesch caiu morto.

E o pastor disse ao espaço:
- Como seria Deus, aquele que passa?
Cordeiro, cabrito, touro, se vindes
E revindes,
Nãoporque um pegureiro, obscuramente,
Vos levou a pascer no firmamento
As flores crepusculares,
E a relva da noite clara,
E no prado do dia as ervas seculares?
E, este pastor do firmamento,
Não é ele, confusamente,
Que me faz sinal no mmento,
Para que leve sem malícia
Minha alma, qual novilha,
Sob o cajado da justiça,
A pastar docemente?

E, vendo o invisível com o seu olho mortal,
Pela primeira vez, sob as bestas do céu,
Um pastor adorou o Eterno.
E o Eterno disse ao pastor:
                                          - Abraão, deixa teu pai
E tua mãe,
E, caminhando à tua frente sem mirar o céu,
Anuncia ao mundo tua luz:
Em ti, o Deus do céu veio à terra.

E o pastor partiu sem mirar o céu,
E caminhou pela senda onde caminha o Eterno.

Tradução de J. Guinsburg

*Edmond Fleg (1874 – 1963), poeta francês de origem judaica.

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