sexta-feira, 20 de junho de 2014

A COROA




Repouso a minha cabeça para a coroa
de espinhos, ostentarei
o silêncio da flor envergonhada
com flechas no lugar das pétalas

Poderia no fim da vida
ter uma coroa que me amaciasse
a cabeça, mesmo que o reino fosse pesado
uma coroa limpa

Mas não, eu não poderia suportar uma coroa
que esmagasse em mim o meu amor
escarlate pelo mundo
para ter um reino na terra, se assim fosse
teríeis outras razões para a minha morte.  

20-06-2014
© João Tomaz Parreira
  

20-06-2014


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Pew, o Cego


Pew, o Cego

Jason Mason Midlesbrought Litton III
ou IV
às 05 h da manhã
está de pé, prestes a sair
para seu trabalho,
porteiro
No Castelo de Windsor
onde religiosamente serve
à Família Real Inglesa
de tão nobres varões assinalados.

Antes, como desde
seus zero anos
olha os retratos de sua família
quatro gerações
quatro honradas gerações
de serviços prestados
à valerosa Família Real,
salve-a Deus.

O primeiro retrato honra
Seu tataravô Eduard
morto na 1ª Guerra dos Bôeres.
Tombou como tombam os heróis da Pérfida Álbion;
foi empalado
e depois esquartejado e lançado às hienas.
Logo após temos Mathias Someller,
tio-bisavô distante, colono e soldado do Império,
morto na 2ª Guerra contra os Bôeres,
aqueles imundos cães neerlandeses.

Sucede-o no rol seu avô Jason Litton I, alfaiate
do Conde de Halifax, Deus o tenha!,
morto na Grande Guerra
junto com três de seus irmãos;
quatro heróis caídos ao naufragar
o navio de batatas que os levaria à batalha.

Deus salve a Rainha,
ele vê a foto de sua terna tia May,
enfermeira,
flor primacial entre os patriotas,
múltiplas X estuprada & morta
na queda de Cingapura
para os japoneses
durante a Segunda Grande Guerra

E mais uma vez, como diariamente,
pontualmente
britanicamente
desde
seus 08 anos
lágrimas descem de seus
olhos piscianos
ou bovinos
séculos e séculos de bons serviços prestados
à Casa Real,
aos Eleitos de Deus
séculos tombando sobre séculos
de serventia

e em silêncio
Pew canta e recanta
o seu trecho preferido
do hino Rule, Britannia!,
a mais magnânima e perfeita
de todas as canções jamais gestadas:

“Governe, Britania! Governe os mares:
Os britânicos nunca serão escravos.” **

 Sammis Reachers
Do livro PULSÁTIL

*Blind Pew, pirata, personagem de Stevenson em A Ilha do Tesouro, referido alguma vez em Borges. De comum com o Pew de Stevenson-Borges, este Pew aqui só tem a cegueira (neste caso, não física, mas de alma, se as hienas possuem-na) e o nome, nome que aqui homenageia dois mestres totais da arte de contar. Um deles decerto odiaria este poema odioso: Borges nutria o obscuro sonho de ter nascido inglês.

** "Rule, Britannia! rule the waves:
"Britons never will be slaves."


O Muro de Lamentações


É o som dos sapatos que se ouve
para não acordar os mortos, o silêncio
envolve os murmúrios
Os carros passam longe, noutra civilização
Mãos e orações trocam papéis com as pedras
as pedras conseguem há milénios
guardar tudo
o que diz o povo com a cabeça rente ao muro.

05-06-2014

© João Tomaz Parreira

terça-feira, 10 de junho de 2014

Novo livro de Sammis Reachers: Pulsátil


     É com prazer que disponibilizo para download ou leitura online meu mais novo livro, Pulsátil - Poemas canhestros & prosas ambidestras.
     
Este livro é uma estranha antologia: reuni aqui poemas esparsos, dos mais novos aos mais antigos, de bons comuns poemas a B-sides, mas que não entraram, por quaisquer motivos, nos meus livros anteriores.
     E ainda um resgate: poemas de meu primeiro, terrível (de ruim) e renegado livrinho, São Gonçalo de Todos os Santos(1999).
     Salgando a miscelânea, a segunda parte do livro reúne uma pequena seleção de frases e pensamentos, geralmente publicados no Facebook. Alguns espontâneos, outros meditados, alguns devocionais, outros de viés mais carnal, satírico, espirituoso ou apenas gotículas de ácido destilado. E ainda algumas reflexões e prosas maiores.
     Falando em carnalidade, o livrinho termina com alguns textos de um certo Mathias Raws, falsário de passaportes e ladrão de bancos (regenerado) inglês, de cujo um poema retirei o título para este livro.
     E para completar a medida de balbúrdia em tudo isso, toques de minhas sinistras, canhestras incursões pelas artes plásticas também estão aqui, na figura de uma pintura, um objeto e fotografias.


     Provocações, balões de ensaio testando limites, ‘tentando’ os limites: sem estranhamento não há arte, não há literatura (mas apenas pedagogia, e a mais chã), sem o perigo das bordas do abismo herético, não se pode fazer boa teologia, não se pode expandi-la. Riscos que se corre e riscos que assumo, pois não vejo outra opção para justificar-me enquanto escritor. Não saberia fazer nada diferente.

O livro possui 113 páginas, e está em formato pdf.

Para ler online ou baixar pelo site Scribd, CLIQUE AQUI.
Para baixar pelo site 4Shared, CLIQUE AQUI.


Caso não consiga realizar o download, você pode solicitar o envio por e-mail, escrevendo para: sammisreachers@ig.com.br
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